Cinzas de entes queridos compõem matéria-prima para quadros expostos em Balneário Camboriú


Variedades | 01/11/2011 | 23h16min

Um grupo de artistas foi convidado para criar as obras a partir de um briefing da pessoa cremada

Jacqueline Iensen | jacqueline.iensen@diario.com.br

Começa nesta quarta-feira uma exposição inusitada no Crematório Vaticano, em Balneário Camboriú, no Litoral Norte. Nas obras de arte da mostra, misturaram-se cinzas e lasquinhas de ossos humanos ao colorido das tintas. Em vez de manter o material nas urnas, as famílias cederam parte para um grupo de artistas, que devolve tudo na forma de pinturas.

Não houve contato direto. Por uma questão ética, o crematório prefere intermediar o repasse das informações. Com base no briefing sobre os gostos do defunto, a obra começou a ser criada.



Parece algo muito simples, um trabalho comum, mas os cinco artistas convidados para a tarefa sentiram um arrepio ao receber o convite: incorporar às suas técnicas as cinzas que seriam guardadas numa urna ou espargidas no mar.

A pintora Solange Ribeiro recebeu 60 gramas de cinza e a foto do rapaz a ser homenageado ao lado de duas coisas que adorava: o fusca amarelo e a cachorrinha. Ela fez um desenho compondo os três elementos mas não se sentiu à vontade para usar a cinzas na imagem.

Como nunca tinha trabalhado com o material temia alguma reação química. Estava certa. Ao misturar a cinza ao gesso percebeu que o material reage e aumenta de volume. Optou por usar material numa espécie de moldura do quadro, que ao final foi folheada a ouro. O envolvimento emocional foi imediato.

— Parecia que eu conhecia ele — diz Solange.

Devota de Nossa Senhora Aparecida, Evelina Carrajola, professora de pintura na Fundação Cultural de Balneário Camboriú, disse que antes de aceitar o desafio conversou com o padre de sua paróquia. Temia desrespeitar a morta. Tranquilizada pelo religioso de não estar profanando o corpo, começou a trabalhar. Nos detalhes do manto de Nossa Senhora Aparecida colocou a cinza em pequenas gotas de tinta.

A desenhista Bianca Oliari Macoppi trabalha com luvas e diz que sempre pede licença antes de manusear os despojos.

Como a morte é inexorável e assusta, mexer e remexer com os mortos não é muito fácil. A pedido das famílias, os nomes dos homenageados na exposição não foram divulgados.

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default.jsp?uf=2&local=18&section=Geral&newsID=a3547890.xml

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